Thursday 15 August 2013

Benfica: defesa, ataque...e o resto?


Costuma dizer-se que não é o ataque, mas sim a defesa, que dá a ganhar campeonatos de futebol. Mas se há outra lição a tirar das últimas temporadas disputadas em Portugal é que o que dá títulos é a força e a estabilidade do meio-campo. Tem sido assim com o trio do Porto no meio, em que Moutinho e Fernando tiveram um papel fundamental e em que Lucho veio dar ainda mais capacidade de equílibrio, de domínio e de posse inteligente da bola.

O Benfica, pelo contrário, tem sido demasiadas vezes uma equipa "partida em dois". Tem uma defesa (boa ou má que seja) e tem uma estratégia e homens de ataque, mas já quando se olha para o meio-campo são muitas as dificuldades, não pela qualidade dos seus jogadores mas porque o modelo de jogo assim o tem ditado. Desde que o Benfica perdeu o losango formado por Javi, Di Maria, Ramires e Aimar a equipa nunca mais encontrou verdadeiro equilíbrio nem a mesma estabilidade no meio. Com a saída de Ramires, o Benfica rendeu-se a dois extremos com menos propensão defensiva (nessa altura já com Salvio e Gáitan) e foi resistindo à substituição do segundo avançado por mais um médio. A excepção foi (embora nem sempre...) a entrada de Witsel no onze do Benfica. Porém, com a insistência em dois extremos perdeu-se também um pouco da veia goleadora que a presença de um segundo avançado ajudava a assegurar (e que a boa forma de Rodrigo ajudou a disfarçar).

O futebol deste Benfica depende muito da qualidade, velocidade e criatividade dos seus médios ofensivos, mas como a aposta nesse modelo é tão forte isso tem tido consequências na perda de equilíbrio a meio-campo e a equipa fica dividida entre o ataque e a defesa. Falta uma inter-ligação melhor entre essas duas fases do jogo. Neste momento é Matic, um jogador que em Portugal vale por dois, que disfarça as debilidades táticas e posicionais da equipa. Mas o modelo continua a não parecer sustentável, especialmente contra equipas fortes que apostam na posse de bola e no domínio claro do jogo a partir do meio-campo. É aí que têm estado as maiores dificuldades do Benfica nos jogos recentes contra o Porto. A equipa fica em desvantagem no meio-campo (2 para 3) e os extremos não podem recuar tanto nem ajudar tanto os dois médios centrais sem deixar de ser aquilo que realmente são: médios alas de vocação ofensiva. Aí, ou a equipa mantém o modelo e arrica-se a perder o meio-campo, e através dele o domínio do jogo, ou coloca mais um médio a 10 (tem sido Gáitan o escolhido) mas também perde a vantagem que tinha quando Cardozo e Lima jogavam lado a lado. Mais grave: muda muito em função de um adversário que assusta, mexe com o jogo habitual da equipa e dá um sinal de desconfiança e receio aos jogadores.

Haverá outras soluções no plantel que permitam equilibrar o modelo deste novo Benfica? E, se sim, será que esses recursos serão usados?