Tuesday 24 September 2013

O Benfica melhorou com Fejsa e Cardozo (mas ainda há um longo caminho pela frente)

Como se viu nos últimos jogos, Jorge Jesus está a apostar muito em Fejsa, que assim forma dupla no meio-campo com Matic. Enzo passou para a direita, e a ligação ofensiva na zona central do campo tem sido procurada através de Djuricic: o tal "9,5" que o treinador procurava e que só é credível porque Cardozo está de volta. Este sistema já está a ter vantagens para a equipa, sobretudo em termos de preenchimento da zonal central do campo e protecção defensiva, mas também implica algumas dificuldades quando a equipa se vira para a frente. Saber se o Benfica será capaz de fazer boas ligações para lá da linha de meio-campo quando passa a jogar com dois jogadores com maior vocação defensiva (Matic e Fejsa) vai ser muito importante para definir se esta equipa tem tanto poder ofensivo como parece poder vir a ter na defesa.

A entrada de Fejsa coloca um desafio muito grande a Matic. Ele deixa de ser o primeiro construtor de jogo (é Fejsa quem agora baixa para junto dos centrais, que fogem para as laterais quando o Benfica sai a jogar), e tem que receber a bola "de costas", ser mais rápido no passe, encontrar os espaços certos e levar o jogo para a frente em posse quando os caminhos do passe estão fechados. As características físicas de Matic não lhe dão grande mobilidade e sobretudo velocidade em espaços curtos, mas a questão está em saber se ele consegue compensar isso com a sua capacidade de manter a bola controlada, e com a visão de jogo e qualidade de passe que demonstrou o ano passado. Matic terá, isso sim, de mostrar mais intensidade nesta posição.

O outro aspecto importante é a definição do jogador que ocupará o espaço do "9,5" e o tipo de jogo que se pretende dele. A aposta em Djuricic, por mais que custe ver Markovic demasiado preso à esquerda, tem feito sentido nesta fase. Fica aliás a impressão que a ligação entre Matic e Djuricic passou a ser um aspecto chave da estratégia da equipa. O maior risco para este novo desenho do Benfica é que haja um espaço de desiquilíbrio entre Matic e o "9,5", sobretudo em jogos onde a batalha a meio-campo seja dura e se queira evitar o recurso excessivo ao jogo directo para Cardozo. Com Markovic (um desiquilibrador nato que não é tão disciplinado no posicionamento defensivo) a jogar pelo meio, esse risco pode aumentar. E também não parece inevitável que Markovic fique tão limitado ao seu flanco como se tem visto mesmo que tenha Djuricic a jogar mais pelo meio.

Na figura em baixo, pode ver-se a formação inicial do Benfica no jogo da "champions" contra o Anderlecht (casa) e Guimarães (fora), para o campeonato.

Tuesday 10 September 2013

Quantos jogadores deve ter um plantel de futebol? Os treinadores portugueses respondem

Há diferenças curiosas na dimensão dos plantéis do Porto, Sporting e Benfica. O Sporting tem 21 jogadores na equipa A, o Porto tem 24 e o Benfica 28. Quem está melhor? 

Não há uma resposta certa para esta questão, como é óbvio, mas a experiência diz muito e o conselho dos grandes treinadores deve ser ouvido. Mourinho sempre disse que gostava de plantéis curtos, com 24, 25 jogadores, no máximo. Tem sido coerente nisso, e assegura assim que todos os jogadores se sentem úteis (dentro do possível...) e que tem um grupo de homens coeso, em que reina o espírito de entre-ajuda entre todos.

O ideal é ter dois jogadores por posição (com a excepção dos guarda-redes, que devem sempre ser três), aos quais se podem juntar uma ou duas "sobras" para poder colmatar debilidades que a equipa possa ter e permitir variações ao longo da época. Assim temos: 22 (dois jogadores por posição) + 1 (terceiro gurda-redes) + 2 ou 3 (o excedente "admissível"), o que dá um total de 25/26 jogadores. Mais do que isso começa a ser demais, e mesmo a organização do treino deve complicar-se. 

Sendo assim, o plantel do Sporting parece um pouco curto, embora possa ganhar em coesão e até colher frutos caso não hajam muitas lesões. Lembre-se que o Sporting tem a "vantagem", a este respeito, de ter menos jogos por estar fora das competições europeias.

Já o plantel do Porto parece o mais equilibrado na distribuição de valor pelas várias posições. Ter 24 jogadores, como pedia Paulo Fonseca, faz todo o sentido e permite ao treinador ter um bom equilíbrio entre a qualidade de opções e a oportunidade de jogar para todos.

No Benfica, já se percebeu que Jesus gosta de abundância. Tem 28 jogadores à sua disposição (que é imenso!), e o ano passado também apresentava um número excessivo. Mesmo que os "excedentes" possam trazer mais soluções ao treinador ao longo da época, eles também implicam custos muito importantes na gestão da equipa. Não se percebe aliás a necessidade de ter Cortez (agora com Siqueira, que poderá estar protegido por Sílvio e até André Almeida), Mitrovic (são cinco defesas-centrais), André Gomes (dificilmente terá alguns "minutos" e devia por isso ter sido emprestado para jogar mais) ou Funes Mori (outra opção que parece inexistente). Veja-se que a lista da "champions", com as ausências de Mitrovic, Cortez e Mori só dá razão a este argumento. Devem evitar-se situações destas, que desmoralizam os atletas, que ficam numa espécie de "escalão B" do plantel principal. A resposta a este problema específico não é apenas a de encontrar mais jogadores portugueses, mas também a de procurar evitar números no plantel que são claramente desnecessários. O mais curioso na lista do Benfica é que Salvio, outro estrangeiro, teve de ficar de fora por lesão. Quem é que iria sair se Salvio não se tivesse lesionado? Custa imaginar...

Deixem o Artur em paz

Segundo as informações que correm, o Benfica terá mesmo estado interessado na contratação do brasileiro Júlio César, um guarda-redes excelente mas já em fase descendente. Muitos adeptos benfiquistas parecem partilhar esse desconforto em relação ao seu actual guarda-redes titular. Isso é estranho a dois níveis: é injusto para com Artur, que não sendo perfeito, já provou ser um "número 1" com imensa qualidade, e desvia as atenções de algumas lacunas muito mais importantes no plantel, por exemplo na questão dos laterais. O maior problema do Benfica na equipa titular é Maxi Pereira, que está longe do fulgor e energia de outros tempos. Veremos se Siqueira será capaz de dar a força e maturidade desejada à ala esquerda do Benfica, que seria importantíssimo para a equipa.

Há dois aspectos em que Artur não é, de facto, perfeito. Tem limitações no seu jogo com os pés, e por vezes tem dificuldades (por ser um jogador alto e que não é leve) nas bolas baixas que chegam com muita força, em particular quando apontadas para o seu lado esquerdo. Foi assim que cometeu um erro importante contra o Estoril o ano passado, e foi também assim que Kelvin marcou o golo que decidiu o campeonato, embora esse remate também tenha muito mérito pela sua excelente execução. 

Mas o Benfica não é o Bayern de Munique, nem deve tentar sê-lo. Não tem que ter o melhor guarda-redes do mundo, mas deve procurar neste caso proteger, valorizar e dar confiança a um jogador que já deu imensos pontos ao Benfica, com defesas espantosas, uma regularidade apesar de tudo notável e que é portador de uma boa qualidade técnica. Aliás, nao há grandes diferenças entre Artur, Hélton ou Rui Patrício. São os três bons guarda-redes (Hélton com mais experiência de alto nível e Patrício ainda com maior margem de progressão), e todos eles dão garantias de qualidade aos seus clubes.

Para o Benfica, dar a volta psicologicamente ao que aconteceu no fim da época passada também passa por não continuar a insistir na busca de culpados e em conseguir valorizar e apreciar o bom que se tem. Uma equipa motivada, que recebe confiança de todos, joga o dobro. Se os adeptos e até a direcção do Benfica acham que um Artur em boa forma e confiante não chega para o clube, então talvez o problema não esteja nele...

Tuesday 3 September 2013

As últimas do mercado (Porto)

No Porto as movimentações foram discretas. Preocuparam-se (e bem) sobretudo com a blindagem de grandes activos como Mangala, Fernando e Jackson, sendo que todos eles tinham boas oportunidades de sair neste defeso. Nesta fase, a saída de qualquer um deles podia desestabilizar a equipa. O Porto emprestou ainda Abdoulaye e Tiago Rodrigues ao Vitória de Guimarães, e Iturbe ruma ao Hellas Verona, também por empréstimo. É uma arrumação de casa que faz todo o sentido. Ainda se pensou que Iturbe podia finalmente explodir na Europa, mas pelos vistos o Porto não acredita muito nisso. Em termos gerais, muito boa abordagem do Porto ao mercado, como tem sido hábito. A maior lacuna do Porto (sobretudo para as competições europeias) continua a ser a falta de um outro extremo que pudesse agarrar o lugar de caras. Aí, o Porto falhou a contratação de Bernard (jogador fabuloso que rumou ao Shaktar Donetsk) e mais recentemente, ao que tudo indica, também a de Vitinho, jovem promessa brasileira que vai jogar pelo CSKA de Moscovo. O dinheiro russo e ucraniano parece assim ser o principal obstáculo ao domínio do Porto no mercado brasileiro. Sendo assim, há Varela, Licá, Kelvin, Josué e Quintero. São boas opções e Quintero arrisca-se a ser extraordinário, mas resta saber se tanto ele como Josué (com uma "raça" incrível) não se sentem mais confortáveis como interiores do que jogando a partir das alas. Boas dúvidas para Paulo Fonseca dirimir nos próximos tempos...

As últimas do mercado (Benfica)

No Benfica, a novidade foi a chegada de mais um lateral-esquerdo, Siqueira, que chega por um ano (empréstimo) vindo do Granada. Diz-se que o Real Madrid quase "roubou" o jogador ao Benfica à última hora na expectativa que Fábio Coentrão rumasse ao Manchester United. Isso apenas confirma as excelentes referências que chegam de Espanha a propósito desse jogador, que não deverá ter dificuldade em tirar o lugar a Bruno Cortez (mais uma opção falhada do Benfica para essa posição). Siqueira é mais sólido a defender e ataca melhor. Não é boa, contudo, a política de curto prazo e de empréstimos que se revela em casos como este (já são dois laterais-esquerdos e nenhum é do Benfica). Teria sido muito melhor assegurar a contratação deste jogador em definitivo, mesmo que não haja expectativa de grande retorno financeiro. É também sabido que a contratação de jogadores "titulares" deve sempre fazer-se mais cedo. Em qualquer caso, era premente a necessidade de reforçar esse sector do campo (ainda mais com a saída de Melgarejo) e ficou a impressão que este atraso pode ter sido provocado pela grande incerteza que houve em relação à continuidade de Coentrão em Madrid, deixando o Benfica refém do Real até à última hora para a resolução desta questão. Um risco enorme!   

As últimas do mercado (Sporting)

O Sporting reforçou-se à última hora com a chegada de dois jogadores: Iván Piris (lateral-direito, internacional do Paraguai, de 24 anos) e Vítor (médio ofensivo, ex-Paços de Ferreira, 29 anos). Vão ocupar posições em que o Sporting carecia de mais opções de qualidade. Welder não terá sido aposta certa para o lugar de lateral-direito, ao que parece. Piris impressionou no Paraguai, no Cerro Porteño, mas depois não confirmou esses atributos no São Paulo e na Roma. Com menos recursos que outros, o Sporting continua a jogar na "recuperação" de jogadores que já deram nas vistas no passado mas que mais recentemente atravessaram momentos piores (veja-se o caso de Freddy Montero). Por sua vez, a chegada de Vítor, um jogador que alinha preferencialmente na posição "10", também pode sugerir que Gerson Magrão foi outro tiro ao lado. Veremos se é isso que se passa, sendo necessário dar maior concorrência a André Martins (Labyad continua de fora), ou se Leonardo Jardim também poderá querer usar Vítor como possível alternativa a Adrien. Vítor vem bem cotado do Paços e pode trazer experiência a uma equipa que é muito jovem. Resta saber se será capaz de dar o salto para uma equipa do nível do Sporting...

Sunday 1 September 2013

Sporting 1 - Benfica 1: um jogo com duas histórias, e que exige melhorias em ambas as equipas se quiserem lutar pelo título

No "derby" deste Sábado, o Sporting supreendeu o Benfica pela capacidade que revelou de dominar o jogo no meio-campo do adversário, com mudanças de posição constantes, grande intensidade e movimentação entre André Martins, Montero e os alas Carillo e Wilson Eduardo. Chegou a haver um claro sufoco em que se deve ter temido pelo pior do lado do Benfica. Sem um trinco posional e com Matic e Enzo perdidos, o Sporting fez quase tudo o que quis em frente à grande área do Benfica na primeira parte do jogo, mostrando apenas dificuldade no momento da definição final de algumas jogadas. Foi clara a ideia de fazer recuar Montero para criar superioridade numérica nessa zona do campo e procurar "fugas" de André Martins em direcção aos laterais do Benfica, deixando-os (sobretudo a Maxi) desapoiados e em grandes dificuldades. Ficou mais uma vez à vista que o Benfica tem muitos problemas quando enfrenta equipas que pressionam bem e muito à frente. A bola quase nunca saía em condições da primeira zona de pressão do Sporting. A entrada forçada de Rúben Amorim, que esteve bem no jogo, reforça a ideia que este Benfica podia ganhar com a presença de um médio defensivo mais posicional em situações deste tipo, dando outra liberdade a Matic para subir e empurrar a equipa para a frente.

Na segunda parte, a história foi outra. O Benfica subiu a defesa, assumindo um risco (que não foi bem aproveitado pelo Sporting) de jogar mais em "offside trap", o que permitiu que de repente Luisão e Garay se começassem a antecipar aos avançados do Sporting. Os centrais passaram de espectadores de um meio-campo em cacos a intervenientes muito mais activos da batalha na zona decisiva do campo. Para além disso, a entrada de Cardozo e a presença em simultâneo de Markovic, Rodrigo e Lima criou alternativas para um jogo mais directo que podia passar "por cima" do meio campo ofensivo do Sporting. Aí, os combates no 1x1 davam quase sempre vantagem aos jogadores do Benfica e a esse jogador incrível que é Markovic. O Benfica, fruto também da presença física e inteligente de Cardozo, conseguiu então empurrar a defesa adversária para trás e dar outro espaço aos seus criativos no meio campo ofensivo. A entrada de Dier não pareceu certeira e manteve o Sporting encostado atrás. Mais conseguida foi a entrada de Capel, que teve bastante bola e que colocou Cortez em sentido por diversas vezes. O Sporting atacava pelas laterais, mas pelo meio já tinha mais dificuldade em surpreender. 

Fica a sensação que embora seja expectável que ambas as equipas melhorem com o desenrolar do campeonato e com a consolidação dos respectivos modelos de jogo, terão de dar um salto grande para ameaçar um Porto que continua a mostrar qualidade, segurança e a vantagem de ter o melhor ponta-de-lança a actuar no nosso campeonato.